A evolução técnica foi o cerne da Revolução Industrial, mas não seu elemento único. Considerando que o termo revolução, em seu significado histórico, indica um conjunto de transformações profundas, a Revolução Industrial corresponde plenamente a essa acepção.
No plano técnico, houve alterações não apenas na produção de bens de capital (máquinas, equipamentos) e de artigos de consumo, como também nas técnicas agrícolas e nos meios de transporte. Mas, acima de tudo, a Revolução Industrial foi marcada pelas modificações econômicas e sociais. E acarretou ainda mudanças no campo político, intelectual e comportamental.
A Revolução Industrial foi, portanto, um acontecimento histórico de enorme amplitude, implicando transformações tão extensas que merecem ser denominadas revolucionárias.
As mudanças tecnológicas, econômicas e sociais registradas entre 1760 e 1860 correspondem à Primeira Revolução Industrial. O período caracterizou-se pelo uso das máquinas a vapor, feitas de ferro e tendo como combustível o carvão mineral.
Na década de 1860, o trinômio vapor-carvão-ferro começou a ser substituído pela eletricidade, petróleo e aço, dando início à Segunda Revolução Industrial.
Etapas da atividade industrial
A palavra indústria é de formação latina; em seu sentido original, indicava o modo de transformar matérias-primas em produtos a ser utilizados ou consumidos. Nessa acepção, a indústria abrange três processos: o artesanato, a manufatura e a maquinofatura - sendo os dois primeiros anteriores à Revolução Industrial.
O artesanato é a forma mais simples de indústria. Nele, todas as fases da produção são realizadas pela mesma pessoa. Por exemplo: na tecelagem, quem produzia fios também os tecia. Como o artesão trabalhava em casa, auxiliado apenas pela família, esse tipo de atividade industrial é conhecido como sistema doméstico de produção.
A manufatura representa um estágio mais avançado da atividade industrial. Nela, um certo número de trabalhadores é concentrado no local da produção, onde ocorre uma divisão do trabalho ou especialização: o processo produtivo é segmentado e cada trabalhador passa a executai- uma tarefa específica, sem precisar se deslocar ou trocar de ferramentas. Com isso, há um ganho de produtividade. As manufaturas surgiram na Europa Ocidental durante a Baixa Idade Média, impulsionadas pelo Renascimento Comercial e Urbano.
A maquinofatura, que caracteriza a Revolução Industrial, distingue-se pelo emprego de máquinas, as quais substituem tanto as ferramentas dos artesãos como os equipamentos utilizados nas manufaturas.
Devemos portanto lembrar que a palavra indústria pode, eventualmente, ser aplicada a situações anteriores à Revolução Industrial. Claro que, nesses casos, ela terá o sentido de artesanato ou de manufatura - nunca o de maquinofatura.
No artesanato, o produtor gozava de certa independência, graças à propriedade dos instrumentos de produção. Com o advento das manufaturas, muitos trabalhadores domésticos autônomos tomaram-se assalariados. Deixaram de comprar matéria-prima e de ter ferramentas próprias, as quais passaram para o controle de seu empregador (geralmente um grande comerciante que também era dono da manufatura). Dessa forma, o ex-artesão receberia apenas o pagamento de seu trabalho, sem qualquer participação nos possíveis lucros resultantes da venda dos produtos.
Uma variante do sistema doméstico de produção, surgida com o Renascimento Comercial e Urbano e que sobreviveu durante um longo período, foram as oficinas artesanais. Nestas, o proprietário trabalhava juntamente com alguns empregados, os quais recebiam salários ou, em certos casos, tinham participação nas vendas. Esse foi o sistema disciplinado pelas corporações de ofício da Baixa Idade Média.
Na Idade Moderna, apesar da crescente importância da manufatura, o sistema doméstico de produção e as oficinas artesanais continuaram a existir, embora em condições cada vez mais precárias.
Fatores da Revolução Industrial Inglesa
Diversos fatores contribuíram para fazer da Inglaterra o país pioneiro na industrialização. Além dos elementos propriamente técnicos (inventos relacionados com a produção têxtil, aperfeiçoamentos na metalurgia e emprego do vapor como força motriz), devemos considerar aspectos econômicos, sociais, políticos e mentais.
O fator fundamental para a Revolução Industrial ter começado na Inglaterra foi de ordem econômica: a grande acumulação primitiva de capitais realizada pela burguesia do país na Idade Moderna.
As práticas mercantilistas carrearam para a Inglaterra uma imensa quantidade de ouro e prata (metais amoedáveis, portanto equivalentes a dinheiro), acrescida de outras formas de acumulação, como a pirataria e o tráfico negreiro. Essa disponibilidade financeira iria facilitar os investimentos na indústria.
Por outro lado, desde o Ato de Navegação de 1651, e sobretudo após vencerem a Holanda (até então a potência marítima hegemônica), os ingleses expandiram seu comércio em escala mundial. A supremacia naval assegurou-lhes o domínio das rotas oceânicas e, consequentemente, dos mercados consumidores e fontes de matérias-primas.
Outro aspecto econômico foi o fato de a Inglaterra, apesar de relativamente pobre em recursos minerais, possuir abundantes jazidas de ferro e carvão - este último necessário como combustível para produzir vapor, mas ainda mais importante na metalurgia do ferro.
Entre os fatores sociais da Revolução Industrial, o mais relevante foi a ascensão da burguesia inglesa, tanto em termos de força econômica como de poder político e prestígio social. Tal ascensão teve duas causas interligadas: o enriquecimento proporcionado pela expansão do comércio e a vitória contra o absolutismo, alcançada com as Revoluções Inglesas do século XVII.
Outro destacado fator socioeconômico foi a enorme disponibilidade de mão-de-obra, pois um grande número de desempregados (os quais Marx chama de exército de reserva) inibe as reivindicações de quem estiver contratado e mantém os salários baixos, aumentando os lucros dos empresários.
À época da Revolução Industrial, havia nas cidades inglesas milhares de pessoas sem trabalho - em sua maioria, deslocadas das áreas rurais por força dos cercamentos. Estes haviam começado no século XV, com a finalidade de proteger as áreas cultivadas contra a voracidade dos rebanhos de ovinos. No século XVIII, o processo de cercar os campos intensificou-se, em detrimento da classe dos yeomen - pequenos produtores rurais viviam da agricultura, do pastoreio e, frequentemente, também da produção de lã.
Apoiada pela burguesia no Parlamento, a aristocracia fundiária ampliou o cercamento das áreas rurais. Muitos yeomen, despojados das terras que cultivavam, concentraram-se nas cidades, à disposição das manufaturas urbanas e da nascente Revolução Industrial.
No plano político, as Revoluções Inglesas do século XVII (Puritana e Gloriosa) deram à burguesia capitalista participação efetiva no governo do país. Isso fez com que, no século XVIII, as autoridades implementassem medidas de incremento ao comércio, tais como melhorar as estradas, abrir canais e modernizai' os portos. A circulação de mercadorias foi facilitada, tanto pela eliminação de algumas taxas como pela uniformização de outras.
Finalmente, há que considerar os fatores mentais (ou psicológicos) da Revolução Industrial. Assim, ao analisar as atividades econômicas na Inglaterra durante os séculos XVII e XVIII, não se pode menosprezar a influência do puritanismo. Embora este não fosse o ramo protestante majoritário no país, ganhara forte impulso nos cem anos anteriores à Revolução Industrial. Ora, a ética calvinista dos puritanos contribuiu para o desenvolvimento do capitalismo, pois incentivava o trabalho e a poupança, além de considerar o enriquecimento uma demonstração do favor de Deus e indício da salvação da alma.
A Revolução Industrial fora da Europa
O primeiro país a realizar a Revolução Industrial foi a Inglaterra, a partir de meados do século XVIII, seguida, no século XIX, por outras nações européias: Alemanha, Itália, Bélgica, Luxemburgo, Holanda, Suíça, Suécia, Áustria, e Rússia.
Fora do continente europeu, apenas Estados Unidos e Japão realizaram sua Revolução Industrial ao mesmo tempo que os países da Europa. Na grande maioria dos países subdesenvolvidos o processo de industrialização chegou cerca de duzentos anos atrasado em relação a Inglaterra. É ocaso da Revolução Industrial no Brasil, Argentina, México, África do Sul, Índia...
O espaço geográfico dos países altamente industrializados da Europa Ocidental caracteriza-se pelo menos por três aspectos: intensa industrialização, forte urbanização e grande aproveitamento do aspecto físico por uma agricultura e pecuária em bases modernas.
A Revolução Industrial dos Países da Europa ocidental apoiou-se em vários fatores, que resumidamente são:
- Acumulação de capitais em decorrência da intensa exploração da atividade comercial no mundo e particularmente nas colônias americanas, nas feitorias e nas colônias asiáticas e africanas;
- Existência de abundantes reservas de carvão mineral, minério de ferro e outras matérias primas industriais em muitos países europeus;
- Grande desenvolvimento das técnicas de produção mediante a aplicação de dinheiro em pesquisas científicas;
- Disponibilidade de mão de obra e intensa exploração da força de trabalho do operário ou trabalhador mediante o pagamento de baixos salários;
- Expansão de empresas multinacionais ou transnacionais nos países subdesenvolvidos.
Surgiram então, no séc. XIX, as estradas de ferro, que facilitaram muito o transporte dos produtos manufaturados, tomando-os mais baratos e colaborando para a Revolução Industrial. A invenção dos alto-fornos desenvolveu muito as indústrias de ferro e aço. A população das cidades aumentou demais: um número cada vez maior de pessoas deixava o campo para trabalhar nas fábricas. O povo sofreu bastante com os vários problemas ligados a salários e condições de trabalho, tendo a Grã-Bretanha que importar cada vez mais gêneros alimentícios para suprir sua população sempre crescente.
A Revolução Industrial no Brasil
Na Inglaterra, o processo de Revolução Industrial teve início em meados do século XVIII, espalhando-se pela Europa neste mesmo período. O Brasil nesta época era colônia de Portugal e sofria os efeitos do Pacto Colonial imposto pela coroa portuguesa. Neste contexto, não era permitida abertura de indústrias no Brasil, cabendo aos colonos comprar os produtos manufaturados de Portugal.
Portanto, o modo de produzir gerado pela Revolução Industrial começou a se desenvolver, de forma significativa, em nosso país somente no final do século XIX e começo do século XX. Foram os ricos cafeicultores de São Paulo, com capital de sobra originário das exportações de café, que começaram a investir no setor industrial.
Nesta fase, as principais atividades industriais era a de produção de tecidos e de processamento de alimentos. Estas indústrias eram de pequeno e médio porte, tocadas pela burguesia industrial que estava em plena ascensão. Concentravam-se, principalmente, nos centros urbanos dos estados da região Sudeste, sendo que a cidade de São Paulo era o grande polo industrial.
O grande desenvolvimento industrial da década de 30 e 40
Foi com o final da República das Oligarquias que a indústria apresentou um grande avanço no Brasil. O governo de Getúlio Vargas, que teve inicio em 1930, incentivou o desenvolvimento do setor industrial nacional no país.
Foi a partir da década de 1930 que o Brasil começou a mudar seu modelo econômico de agrário-exportador para industrial.
Já no começo da década de 1940, ainda no governo Vargas, houve um forte incentivo industrial patrocinado pelo Estado com a criação de empresas estatais. Estas indústrias atuavam nos setores pesados, pois necessitavam de grandes investimentos. Como exemplos, podemos citar as seguintes empresas estatais que surgiram neste contexto:
- Companhia Siderúrgica Nacional (CSN) – criada na cidade de Volta Redonda (RJ) em 1940, atuava na área de siderurgia;
- Companhia Vale do Rio Doce – criada em 1942, atuava na área de mineração;
- Fábrica Nacional de Motores – criada em 1943, atuava na área de mecânica pesada;
- Fábrica Nacional de Álcalis – fundada em 1943, atuava no setor químico.
Consequências da Revolução Industrial no Brasil
Embora tardia, os efeitos da Revolução Industrial no Brasil foram positivas em muitos aspectos:
- Diminuição da dependência da importação de produtos manufaturados;
- Aumento da produção com diminuição de custos, barateando o preço final dos produtos;
- Geração de empregos na indústria;
- Organização dos trabalhadores da indústria em sindicatos, que passaram a lutar por melhores condições de trabalho, direitos e salários mais justos;
- Avanços nas áreas de transportes, iluminação urbana e infra-estrutura.
E claro, trouxe também os efeitos negativos:
- Aumento da poluição do ar e dos rios (muitas industriais passaram a jogar produtos químicos e lixo em rios e córregos);
- Crescimento desordenado dos centros urbanos com o êxodo rural e aumentos da vinda de imigrantes para as grandes cidades;
- Uso de mão-de-obra infantil (na primeira etapa da industrialização).
Você Sabia?
Irineu Evangelista de Souza, o Barão de Mauá, foi um dos pioneiros da industrialização do Brasil. É considerado o primeiro grande industrial brasileiro, sendo o responsável pela primeira fundição de ferro, primeira ferrovia e primeiro estaleiro do Brasil.
Consequências da Revolução Industrial no Mundo
A Revolução tornou os métodos de produção mais eficientes. Os produtos passaram a ser produzidos mais rapidamente, barateando o preço e estimulando o consumo. Por outro lado, aumentou também o número de desempregados. As máquinas foram substituindo, aos poucos, a mão-de-obra humana. A poluição ambiental, o aumento da poluição sonora, o êxodo rural e o crescimento desordenado das cidades também foram conseqüências nocivas para a sociedade.
A partir da Revolução Industrial, houve um salto no crescimento econômico, e o modo de vida se transformou, as populações passaram a ter acesso à bens industrializados, se deslocaram para os centros urbanos, havendo o êxodo rural, e um grande crescimento demográfico. As relações também passaram por transformações, pois duas novas classes foram criadas, a dos proprietários e dos proletariados.
Outro ponto importante, foi a consolidação do capitalismo como o sistema econômico vigente, e o surgimento do capitalismo financeiro, que exigia altos investimentos das grandes empresas, onde os bancos entravam com os empréstimos e participavam ativamente das atividades econômicas. O processo de produção em série também caracterizou esse período, as mercadorias passaram a ser produzidas de maneira padronizada e uniforme.
O Imperialismo também ganhou lugar com sua política de expansão e domínio territorial, pois as potências capitalistas precisavam de mercados externos que servissem de um apoio para seu excedente de mercadorias. Os movimentos operários, os conflitos, e a criação do sindicalismo, que resultou na legislação trabalhista, também foi uma das principais consequências da revolução.
Bibliografia Indicada:
- MISES, Ludwig Von. Ação Humana. São Paulo: Instituto Ludwig von Mises Brasil. p. 29.
- Araújo, Maria Célia Soares. O Estado Novo. São Paulo: Zahar.